1.17.2010

sorriso perdido, olhar ao fundo .

Com o fumo do cigarro a envolver-me e o carro da frente já com algum medo das minhas travagens bruscas visto que não é propriamente giro ter um carro a entrar pela traseira do nosso, encontro-me perdido em pensamentos. O normal numa viagem pela cidade.
O normal numa viagem por onde quer que seja.

O sorriso, esse transparece alguma inocência misturada com nostalgia e com um bocadinho de tristeza também para dar o remate final. O primeiro pensamento é um cliché. O primeiro pensamento é aquilo que todos pensamos e que escrevemos precisamente sobre isso (ou então não, mas não interessa).

As pessoas são tão interessantes. Únicas - ensinaram-me em filosofia outrora lá atrás...
As pessoas são únicas. E únicas são também as suas estórias. Encantam-me as estórias das pessoas. As que sei. As que venho a saber. As que nunca saberei. As que imagino. Encantam-me, sobretudo, as que imagino.

(Travagem brusca)

Um João qualquer encostado numa esquina. Uma mensagem no telemóvel que o deixou claramente perturbado. Isso, e todo o álcool que já tem dentro de si. Isso, e toda a incredibilidade e tristeza estampada no rosto.
O resto são ingredientes, meus e teus e nossos e vossos, que podem ser acrescentados. É uma estória, rica como qualquer outra. Única.

Olhar perdido, ao fundo.

Olho o Cais do Sodré e toda a confusão de pessoas que a esta hora descem com vista numa qualquer diversão nocturna na zona agitada. Olho o Cais do Sodré e sorrio. Olho o Cais do Sodré e as estórias que à minha volta se cruzam.

Bêbedos. Pelintras. Jovens. Velhos. Casais.
Alegria. Lágrimas. Avareza. Gargalhadas.

E o olhar, esse... Continua ao fundo.

De sorriso perdido, ainda a deambular pela imaginação, encontro-me de novo a pensar noutra estória. Desta vez, entra-me uma amiga no carro que me conta uma estória que podia figurar bem numa telenovela. Essa também rica. Única.

É. Também a minha estória, à sua maneira é rica e única. Talvez desse para um livro. Talvez não.
Esta imaginação faz-me voar e olhar ao fundo de sorriso perdido. Esta imaginação faz-me pensar que posso ser um escritor genial. Genial porque vejo o que ninguém vê e o que toda a gente vê. Genial porque, apesar de tudo, gosto de mim. Genial porque é a maneira de elevar-me o ego a mim mesmo. Genial porque tenho de acreditar que sou bom.

Genial porque tenho de disfarçar os meus defeitos. Genial porque sim. Porque eu quero.

É. De sorriso perdido e olhar ao fundo penso em ir dormir. Pensar no João que por esta hora, ainda se encontra na esquina pasmado a olhar para o telemóvel a pensar que as coisas nem sempre são o que parecem.

E eu? Afinal também não sou tão genial assim.

2 comentários:

Máda disse...

Todos nós somos geniais à nossa maneira....e por este texto..também tu me pareces genial!!!
Nem tudo será como nós queremos ou imaginamos....mas o importante é saber erguer e continuar o caminho....

Inês disse...

Genial.