7.09.2012

#do motivo

Chorar é sempre uma coisa que mexe com as pessoas. Com as que choram e com as que olham para alguém a chorar. É algo que toca a impotência, de alguma maneira. Claro está que existem lágrimas de alegria, um choro muito mais positivo. Ainda assim, regra geral, chorar está associado a coisas más, negativas e tristes. 


Era o caso dele. Entrou no metro e sentou-se numa cadeira entre desconhecidos e ficou a olhar o fundo da carruagem como se fosse uma paisagem distante. Triste, mas distante. Já passava da meia noite e à volta estavam muitos turistas que, certamente, não o entendiam. Não entendiam a língua. Não entendiam os sentimentos. Não o entendiam a ele. 


Uma lágrima teima em cair. O olhar distante, triste, mas distante. A olhar o fundo da carruagem como se fosse uma paisagem distante. Sem se preocupar com os olhares alheios. Sem se preocupar com o incómodo que causava. Provavelmente, incómodo a ninguém. 


(Outra lágrima teima em cair. E o olhar continua distante.)


Intrigo-me porque será. Quero acreditar que são razões alheias à economia do país. Quero acreditar que ele tem dinheiro na carteira para conseguir pôr o pão na mesa no dia seguinte. Quero acreditar que os trocos chegam para esse luxo chamado café. 


Estava na Grécia. De Pireu para Atenas. Não consigo ter a certeza que aquelas lágrimas estavam relacionadas com um relacionamento acabado. Ou com uma outra qualquer situação. Apesar de penoso, preferia acreditar que teria sido a namorada que o traiu. Desconfio que não. E, ainda hoje, esta imagem que tanto me incomodou continua a martelar-me na memória. 


Não por ele estar a chorar rodeado de pessoas estranhas e com o olhar distante. Mas pelo motivo. O mesmo motivo que o fazia continuar com o olhar ao longe. Inerte. Longe de todas aquelas pessoas e daquela realidade que o rodeava. Alheio. 


Chorar é sempre uma coisa que mexe com as pessoas. É. 


Eu saí em Monastiraki e ele seguiu. Ficou a olhar o fundo da carruagem como se fosse uma paisagem distante. Triste, mas distante. Já passava da meia noite e à volta estavam muitos turistas que, certamente, não o entendiam. Não entendiam a língua. Não entendiam os sentimentos. Não o entendiam a ele.  Não percebiam o motivo.






(Acrópole . Atenas . Grécia . Junho . 2012)







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