8.29.2007

dura praxis, sed praxis .

Porque faltam 18 dias para saber onde fui colocado, isto é, para ser oficialmente estudante do ensino superior. Li e achei bastante a propósito um texto publicado no blog Praxe Sadia e passo a transcrever:

MANIFESTU - PRAXIS: STATU QUO


Para todos os verdadeiros e bons praxistas, que vêem a praxe como algo
a preservar e que nela são nada mais do que eles próprios.


Praxis

A palavra praxis, na antiga Grécia, refere-se a actividade levada a cabo
por homens livres.
Aristóteles defendia que existiam três actividades básicas
de um homem:

- theoria;
- poeisis;
- praxis;

A estes três tipos de actividades correspondem três tipos de conhecimento
diferentes:

- A theoria corresponde ao conhecimento teórico e tem como objectivo a
verdade;
- A poeisis, (raíz da palavra poesia), corresponde ao conhecimento poético
e o seu objectivo é a sua produção;
- A praxis corresponde ao conhecimento práctico, cuja finalidade é a acção,
o seu próprio desenrolar;


Com isto pretende-se apenas dar a conhecer o significado de “praxis”,
palavra mãe de “praxe”, como algo cuja função é ser feito, se desenrolar, em
suma: existir.


Estado geral da Praxe e sua dinâmica
Praxe entende-se, de uma forma geral e aceite pela maioria, como o conjunto
de usos e costumes tradicionalmente existentes entre uma comunidade académica.
Aqui não valerá apena explicar a sua origem, pois é um trabalho já feito
anteriormente. Uma boa obra de leitura acerca de Praxe e tradições académicas é
“Qvid Praxis? (Portvcalensis)” de Manuel Cabral e Rui Marrana.

A praxe existe e sua função, como qualquer tradição, é perpetuar-se.
Imutávelmente?
De maneira nehuma. Desde os primórdios dos costumes académicos se tem
notado uma constante mudança. Costumes como o canelão (recepção em que os mais
velhos pontapeavam os caloiros, partindo muitas vezes pernas e acabando sempre
em feridos) e outras práticas violentas foram proibidas ou acabaram por se
extinguir de uma forma natural, à medida que os tempos e a sociedade evoluíam.
Claro está, então, que costumes se vão alterando e abolindo conforme as mudanças
dos tempos, e o que sobrevive sempre como matriz principal e identificadora são
os traços mais belos e originais.

A praxe é dura? Sim, pode ser. Como tradição, tem de defender os seus mais
básicos costumes (normas de trajar, comportamento em determinadas cerimónias,
regras de actividades, etc), para a maior parte destas normas existe o Código de
Praxe, uma adaptação feita por Balau e Soromenho em 1983 do Código de Praxe de
Coimbra (impresso e publicado nos anos 40 ou 50, mas de existência
anterior).

E a conduta? O modo como interpretar o Código? Aplicá-lo em que espírito?
Festaleiro ou sério?Sendo a praxe dos estudantes e sendo a comunidade estudantil
caracterizada pelo seu dinamismo, originalidade, humorismo e irreverência, faz
todo o sentido uma praxe reflectora de tais qualidades.

A verdade é que a praxe é as duas coisas: séria e festaleira. O problema
jaz na exagerada seriedade que muita, muita gente lhe atribui.

Muitos humilham caloiros.
Muitos abusam de um pseudo-poder.
Muitos ameaçam usar ou usam força física em praxe.
Muitos são prepotentes.
Muitos são presunçosos.
Muitos são totalistas.
Muitos são fanáticos...

Este manifesto insurge-se contra a falta de ética e conduta.

A praxe deve ser um gozo próprio do estudante e funcionar naturalmente
entre todos a que ela se dizem pertencer. A praxe não tem dia nem horas certas,
acontece! Não é tropa nem anarquia.

O bom senso das pessoas em praxe é imperativo: o “praxar”, actualmente, só
pode assumir uma postura de gozo e brincadeira.

E o “Dura Praxis Sed Praxis”?
Como já anteriormente foi dito, a praxe, como tradição, tem de defender os
seus mais básicos costumes. As sanções existem e devem ser aplicadas com bom
senso em caso de incumprimento de certas normas, como por exemplo normas de
trajar, comportamento e outras normas establecidas em Código de Praxe.

Claro está que no Código de Praxe existem várias normas, muitas delas
ridículas nos dias de hoje. Como sancionar? Mais uma vez, com bom senso, num
espírito irreverente e não prepotente.

A praxe deverá manter principios como a fraternidade e humildade entre os
estudantes, sendo a humildade absolutamente incompatível com a prepotência, e a
fraternidade absolutamente incompatível com o totalismo e fanatismo.

A praxe é de ninguém e de todos. Ninguém dela se pode apropriar ou
aproveitar para uma pseudo-glória pessoal. A autoridade de aplicação de sansões
que cada hierarquia concede deve ser acompanhada com a responsabilidade, bom
senso, originalidade, irreverência e gozo do praxista.

O respeito deve surgir de uma forma natural e não de uma forma artificial e
imposta.

O que se vê muitas vezes não é respeito, mas sim medo. Medo de ser praxado,
de se ser expulso da praxe... Vive-se numa situação em que existe um vasto
sentimento de desagrado e medo de não cumprir, com receio de se ser excluído.
Tal situação só atenta ao nome das Tradições Académicas, e acima de tudo, à sua
essência! Este manifesto pretende revitalizar o espírito crítico e a coragem
para enfrentar o totalismo e a prepotência, e caracteriza-se como o directo
herdeiro da mentalidade de muitos que por sua vez revitalizaram e lutaram pelas
Tradições Académicas nos inícios dos anos 80.

Quem nós somos com amigos e companheiros não deve ser diferente de como
somos envergando um traje, mas se for para ser diferente, que seja para
melhor!

A Praxe é tradição e conduta, que infelizmente sofre de um pluralismo
interno que contradiz os seus nobres valores... Nem sempre quem mais vezes vai à
praxe sabe para que é que ela realmente serve, e o que ela é ou deveria ser, e
disto é necessário tomar consciência.

A Praxe Académica tem bases e regras escritas no código, mas carece de
normas de conduta... que leva ao pluralismo contraditório mencionado.

Cada vez mais se assiste a uma atitude arrogante dos praxistas, que
humilham caloiros ou doutores abusando das permissões que a dinâmica actual
permite, que organizam a praxe em dia e hora marcada com o objectivo de comandar
matrizes de pessoas, que mandam gatinhar, rastejar, molhar, sujar
incessantemente... É isto a originalidade?

O principal objectivo das tradições académicas é serem transmitidas de
geração em geração, como um traço da nossa identidade e com o objectivo de se
fazer sempre melhor...

Mas quantos sabem o significado de trajar? O seu simbolismo de humildade e
igualdade?Quantos sabem estar em silêncio numa serenata de capa traçada, e
apreciar?
Quantos sabem lançar em condições um “é-fé-rreá”?
Quantos sabem ser íntegros, humildes e afáveis com os que chegam?
Quantos estão na praxe para lhe dar algo, ao invés de retirar algo para
eles proveitoso?
Quantos são os praxistas que recusam o fanatismo e dogmatismo?

Muito poucos, quase nenhuns... Pois a dinâmica actual e as pessoas nela,
encarregam-se natural ou pessoalmente de afastar defensores das tradições, tanto
estudantes como licenciados de vários anos, que cada vez mais se manifestam
contra o estado actual de muitas das coisas.

É primeiramente para eles este manifesto, porque nunca se corromperam. E
face à sua posição hierárquica mostraram ser íntegros e moderados, e acima de
tudo: eles próprios.

Pois o que cada pessoa faz, define-a.
E esses sim, fizeram e fazem bem.


"só capas, só fitas, a Praxe continua”.


Muito bem. Totalmente de acordo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Achei piada encontrar o meu manifesto já minimamente divulgado. ;) Ainda bem que o aprecias, e espero que agora que entraste no ensino superior, este te faça ao mesmo tempo abraçar as boas tradições e denotar o que é certo e o que é errado. ;)